Economia

Fabricante do Johnnie Walker compra cachaça brasileira Ypióca

Negócio foi fechado por cerca de R$ 900 milhões

O presidente do grupo Ypióca, Everardo Telles, em foto de agosto de 2001
Foto: Antônio Duarte / Agência O Globo/31-08-2001
O presidente do grupo Ypióca, Everardo Telles, em foto de agosto de 2001 Foto: Antônio Duarte / Agência O Globo/31-08-2001

RIO — A Diageo, gigante britânica de bebidas alcoólicas, comprou 100% da brasileira Ypióca, que pertence a família Telles, por R$ 900 milhões. Além das marcas de cachaça produzidas pela companhia brasileira, a multinacional adquiriu a destilaria do grupo em Paraipaba, no Ceará, a fábrica de envazamento em Ensejava, em Fortaleza, além de um centro de distribuição em Guarulhos, em São Paulo.

A Diageo, cujo faturamento cresceu 23% em 2011 no Brasil, fabrica marcas como o whisky Johnnie Walker e a vodka Smirnoff. A Ypióca, que faturou R$ 177 milhões no ano passado, tem 8% do mercado de cachaça do Brasil, número que lhe garante a segunda posição, em valor, do mercado nacional da bebida. A cachaça hoje é a segunda bebida alcoólica mais consumida do país, atrás apenas da cerveja. A Ypióca produz 6,6 milhões de caixas de 9 litros por ano.

Com a aquisição, a Diageo eleva em 20% o seu tamanho no Brasil, quando se observa o volume de bebida vendido no país. Segundo Otto Von Sothen, presidente da Diageo, a aquisição, cujas conversas começaram a há 1,5 ano, representa uma aposta no crescimento no Brasil e uma oportunidade única para avançar no país.

— A cachaça é uma das bebidas com a maior presença no Brasil. A Ypióca tem hoje 60% de suas receitas concentradas no Ceará. E, com isso, vemos oportunidade de crescimento no país, com o aumento da distribuição da bebida no Brasil. O objetivo é crescer de forma sustentável e acelerada — diz Sothen.

Segundo ele, a Ypióca é distribuída em 250 mil pontos de venda no Brasil. Já a Diageo está em 160 mil pontos. Para o executivo, a tendência é que a longo prazo haja uma sinergia na distribuição.

— No curto e médio prazos, a Ypióca continua sendo tocada de forma independente. Com a aquisição, 700 pessoas serão absorvidas e não haverá demissão. Assim que for concluída a compra, a família deixará de exercer cargos executivos na companhia. Apenas, o dr. Everaldo (atual presidente e sócio-controlador da Ypióca, Everardo Telles) estará no conselho consultivo — destaca Sothen.

Everaldo é bisneto do fundador, Dario Telles de Menezes, que destilou o primeiro litro de cachaça da marca em 1846. A família Telles, no entanto, vai seguir ligada à multinacional britânica. A família, dona ainda de três fábricas de cachaça (uma no Rio Grande do Norte e duas no Ceará), assinou acordo com a Diageo para produzir a bebida com exclusividade por alguns anos.

Como só a unidade de destilados foi vendida, Telles ainda é dono de outras divisões do grupo Ypióca, como as marcas de água mineral Naturaguá e Prime, um complexo turístico (Y-park), fábricas de papel e embalagens, e ativos de agropecuária.

A Diageo mantém planos de ter metade das suas vendas em mercados emergentes até 2015.

— Vemos grande complementariedade em relação ao nosso portfólio. Cerca de 40% das vendas do whisky Johnnie Walker se concentra no Nordeste — afirma Sothen.

Nos planos da Diageo, está a exportação da cachaça brasileira para os Estados Unidos. No início de abril, o governo americano reconheceu a cachaça (aguardente de cana-de-açúcar) como produto tipicamente brasileiro. Antes o produto era vendido nos EUA como rum brasileiro.

— Com essa denominação de origem reconhecida pelos EUA, abre-se espaço para as exportações da cachaça brasileira para lá a taxas (de importação) menores — lembra Sothen.